>>> GILSON VIEIRA: TRIBUTO A UM AMIGO/IRMÃO
Eu (Nilton), Sandra (minha esposa) e Gilson - nos muitos encontros desta vida
16 de maio de 2023. O dia amanheceu diferente, aqui no meu quintal choveu, como se lágrimas estivessem sendo derramadas em meu rosto. Estou em luto.
Conheci o Gilson Vieira lá na minha infância, pré-adolescência, pois eu era colega de aula de sua irmã Ilza, que fora nosso elo inicial de ligação, mas não sabia que nossas vidas seriam tão entrelaçadas como foram.
Lá pelo final dos anos de 1980, eu assumi a responsabilidade de tocar uma casa noturna, a Danceteria Stallus, do meu saudoso amigo/irmão Ribinha da Caema, e foi nessa época que convidei o Gilson para trabalhar comigo pela primeira vez, e ele prontamente aceitou.
Viramos amigos e passamos a frequentar a casa um do outro, depois fui convidado para ser o diretor da Rádio Boa Esperança do Mearim, pelo meu outro amigo/irmão Henrique Muniz, e o Gilson passou a trabalhar comigo na rádio, inicialmente na área administrativa, depois ocupou um espaço na programação e deu conta do recado, se tornando um dos mais populares e versáteis locutores da emissora, onde fazia programas musicais, transmissões de futebol e ainda ajudava e muito na parte comercial e técnica.
Gilson Vieira se tornou conhecido do público. Ele ainda foi meu parceiro e sócio na promoção de grandes festas no saudoso Clube Jatay, com bandas memoráveis como Forró Maior, Chicote e outros, shows com Bartô Galeno, Roberto Villar e outros tantos, que movimentaram a cidade na época.
Já casado com a Alcey, resolveu ir embora para São Paulo, e na época eu convidei a sua então esposa para trabalhar comigo, eles dois aceitaram meu convite e a ela eu transmiti meu carinho de irmão que sempre nutri por ele, e passei a tê-la como minha irmã também. Alcey, uma pessoa extraordinária, batalhadora e que muito nos ajudou na rádio.
Entre intervalos, eu também resolvi ir embora da “Terra da Esperança”, e naquela época estávamos produzindo um disco com cantores de Esperantinópolis, com o intuito de ajudar na construção da nova igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Com a minha saída o Gilson Vieira assumiu a produção do CD “Esperantivozes”, cuja música principal é de minha autoria: “Esperantinópolis – Terra que encanta”, gravada por um grupo de intérpretes, incluindo Padre Carlinhos, Leone e Leonildo, Maria da Luz e outros. Com a venda deste disco, foi conseguida muita ajuda para a construção da igreja.
Gilson ficou por Esperantinópolis, casou-se de novo, após a primeira separação. Fui morar em Palmas (TO), e sempre em contato com ele, que já estava no terceiro casamento, desta vez com uma pedreirense, resolvemos apostar as fichas num projeto de um jornal em Pedreiras. Ele saiu de Esperantinópolis, eu de Palmas e nos encontramos na “Terra da João do Vale” e nos associamos no jornal Panorama Regional, que cobria toda a região do Mearim.
O jornal foi um sucesso, mas o Gilson mais uma vez se separou e resolveu voltar para a casa da mãe, por insistência de dona Maroca. Neste período pós-separação, ele passou a morar praticamente na minha casa, no Goiabal, em Pedreiras, até mudar-se definitivamente de volta à Esperantinópolis.
Ele fazia há muito tempo, e com grande desenvoltura e competência as narrações de comícios políticos, e aos poucos foi se apegando a isso, ganhando espaço no meio, se filiando ao PDT de Raimundo Corrêa e seguindo, se candidatando a vereador em 2012, sendo eleito com 536 votos. Em 2016 se reelegeu, tornando-se presidente da Câmara Municipal, função que ocupou por dois biênios.
Neste período, já presidente da Câmara Municipal, ele me convidou para fazer consultoria e assessoria de comunicação para o Legislativo Municipal. Juntos criamos muitos projetos, revitalizamos setores da Casa, iniciamos a transmissão de sessões, criamos a biblioteca, fizemos ações sociais, e sempre estávamos em sintonia nos nossos trabalhos.
Veio a primeira etapa da doença, na fase ainda não diagnosticada, nas várias tentativas de descobrir sua doença, e sempre que pude, estive ao seu lado. Nas suas viagens ele sempre passava em minha casa para “filar um feijãozinho da dona Sandra”, como ele dizia, referindo-se a comida da minha casa.
Gilson, aliás, desde cedo já “filava” meus feijãozinhos e era presença constante na minha casa desde Esperantinópolis, quando costumávamos receber amigos para feijoadas aos domingos e assistir filmes no videocassete.
Assim, com essa proximidade, era natural que ele também fosse querido pelos meus filhos, com quem sempre manteve amizade de irmão mais velho; depois vieram meus netos, que já se acostumaram com sua presença entre nós.
Se ele estava por perto me ligava, anunciando que estava chegando para o almoço. - Vou passar aí, Niltão, e vou levando uns amigos para a gente almoçar juntos. – estava sempre acompanhado, bem acompanhado, de bons amigos, de pessoas do bem. E nós os recebíamos com o maior prazer.
Outro dia, precisando de mais um milagre, ele pedia sangue para poder sobreviver. Aqui em Pedreiras fizemos todo o possível para conseguir, e conseguimos até mesmo empréstimo de sangue na Hemomar, enquanto seus amigos se organizavam para fazer doação necessária, e mais uma vez conseguimos superar e Gilson continuou vivo...e lutando para viver.
Mesmo durante seus momentos mais difíceis, ele nunca se ausentou da minha família, e me ligou para saber se dava para passar por Pedreiras na última vez que veio a Esperantinópolis, porque queria comer o nosso feijão, mas a enchente do Mearim não permitia a passagem, e ele não almoçou comigo desta vez, que seria sua última refeição comigo.
Continuamos em contato, reafirmando a esperança de dias melhores. Um dia desses me ligou pedindo que eu fizesse uma arte para colocar sua casa a venda, para custear seu tratamento. Fiz a arte e publiquei, com a ajuda de muitos amigos, tentamos vender para que ele continuasse seu tratamento, infelizmente não conseguimos.
Na última vez que nos falamos, ele estava em São Paulo, buscando recursos para prolongar sua vida. Me falava com a voz fraca, mas ainda cheio de esperanças. – Tenho uma notícia boa, Niltão, minha situação tem cura, mas preciso de muito dinheiro. Nisso pediu o encaminhamento de alguns amigos para ajuda-lo nesta situação. Fiz os contatos que ele me pediu e depois disso não falamos mais, só acompanhei com apreensão e ainda esperança, a notícia de que ele tinha retornado ao Maranhão, estava em São Luis e seu estado de saúde era muito grave.
Hoje, sua alma falou para a minha, que estava indo, que havia chegado a hora. Agradeço a Deus por ter me permitido o convívio com Gilson Vieira, um menino que se tornou homem e eu nem percebi, que cresceu e eu nem ví, que se tornou um guerreiro e que eu admiro e vou levar como exemplo para o resto da minha vida.
Gilsomar Soares Vieira, partiu nesta terça-feira, 16 de maio de 2023, aos 46 anos, deixando um filho, Paulo Sérgio, após uma luta intensa, imensa e ingrata contra um câncer.
Meu irmão, até nosso próximo encontro! Vá com Deus!